Mateus, cap. 12, v.v 48
Há uma grande diferença entre "ser pessoas" e "ser função".
Aliás, "ser" é verdadeiro e concreto, enquanto que "função" é passageira e temporal.
Quem é mãe ou pai biológico sempre o será; no entanto, sua função termina com o desenvolvimento e a maturidade dos filhos. Todavia, há adultos que, consciente ou inconscientemente, para não perderem o seu papel social de dominador, educador e protetor, preferem ver os filhos, embora crescidos, infantilizados.
Ao contrário no reino animal, vemos claramente o casal estimular os filhotes a serem independentes, ajudando-os a assumir a própria vida.
Aves marinhas, que fazem seus ninhos em altíssimos rochedos, quando percebem que as suas crias estão aptas a voar, empurram-nas com o bico, lançando-as das alturas, sem a preocupação de que irão voar ou não, pois confiam nos instintos naturais.
Não nos esqueçamos que também somos natureza, e temos forças instintivas que não se pode substimar.
Ocorrem sempre em nossos filhos técnicas, impulsos automáticos que serão utilizadas inconscientemente pelos mesmos para se liberarem do domínio dos adultos; técnicas essas que podemos definir como "humanização dos pais".
De repente os pais, começam a serem vistos como criaturas comuns, não mais o herói da infância. Deixam de ser perfeitos e puros e passam a serem observados em suas fraquezas, erros, injustiças, sexualidade, desacertos e outras coisas mais da característica humana.
Essa "humanização", muitas vezes não é bem aceita ou recebida pelos pais. Eles se vêem inseguros, desprotegidos, receosos de perder a afeição dos filhos, a obediência e o respeito.
Aí tentam reter o crescimento e maturação necessária do filho, à procura de alto afirmação e responsabilidades.
Os pais imaturos e despreparados são os que mais rejeitam e hostilizam as iniciativas de voo do filho, as iniciativas de autonomia.
Prendem as crianças ao seu redor, como diriamos "a barra da saia", sentindo-se fragéis e incapacitados de acreditarem que elas são capazes de "se virarem" sozinhas, e ainda mais sentem medo de que deixaram de considerá-los e amá-los.
Muitos desses pais só aprenderam a perpetuar a função paterna e/ou materna. Por isso, tanto medram em perder a única finalidade de sua existência.
Antes das criaturas humanas "estar em família", ela é um "ser imortal". em evolução terrena. Não podemos, pois, vivermos na ilusão de sermos famílias intocáveis, no ambiente doméstico, não devemos esquecer nossa condição humana, e nos percamos entre as ilusões e fantasias de seres idealizados como perfeitos e superiores.
"Ser" qualifica se como possuidor de presença e existência real, enquanto "estar" ao contrário, entende-se como: encontrar-se provisoriamente em determinada situação, lugar e momento.
Em vista disso, podemos compreender perfeitamente o significado das palavras de Jesus: "porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que estás no Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe".
Portanto, "ser" e "estar" devem fazer parte das indagações que fazemos, nos identificando ou desindentificando como pessoas, posições, lugares e situações em que nos encontramos no exercício benéfico do desapego e da individualização.
Livro: Um modo de Entender/Uma nova forma de Viver.
Francisco do Espírito S. Neto/ Ditado por Hammed.